terça-feira, 28 de abril de 2015

Highline Primeiro Nível - Cachoeira da Fumacinha

Aceitar as mudanças e viver ao extremo buscando o melhor em cada detalhe que a Natureza oferece é estar aberto ao novo, ao presente que não se repete, cada passo tudo muda e esse é o encanto, ou ainda, talvez, mais extraordinário do que tentamos descrever.

Chegamos ao final da Chapada SlackTrip e a ultima missão mais marcante foi a conquista de uma linha na Cachoeira da Fumacinha, batizada de primeiro nível. O nome já diz tudo, e em todos os sentidos. Este lugar é muito encantador e cenográfico, se houvesse dinossauros no mundo, eu diria que aqui seria terra deles... Pensamentos loucos a parte, a experiência que vivemos nos dias que passamos aqui foi das mais “loucas” já vivenciadas neste lugar e, no final de tudo, mais uma vez concordamos que não poderia ter sido diferente por mais planejado que fosse. Viver um extremo desses é para poucos, por isso sempre pergunto: você está preparado?

Essa grande aventura começou com a ideia de dividir a equipe para ao mesmo tempo conquistar o paredão da Fumacinha com uma Via Big Wall pelo Paulinho e seu fiel parceiro do climb, o gaúcho Marcelo que viajou quilômetros para continuar o projeto e por fim realizar. Sua chegada foi ao mesmo tempo em que pretendíamos alcançar o roteiro Fumacinha por baixo, seguiríamos todos juntos rio a cima e o Paulinho escalariam o paredão, então a missão veio a calhar com ideia de abrir uma linha de Highline com visual de fundo da Cachoeira e um Waterline no véu da cortina d`água.

A diversão começa quando pegamos nossas as mochilas e partimos para mais uma missão que não sabemos como será, mas imaginamos o melhor desde o início e estamos sempre preparados para o que há que aconteça, e nas surpresas usufruir a melhor ou única opção. Na estrada paramos na ultima merceariazinha e calibramos a bagagem com mais alguns itens para a sobremesa e pronto, com mais ou menos vinte quilos na mochila de cada um, alguns mais, mas adequado ao teste de resistência de cada atleta.

Seguimos para entrada da trilha onde deixamos os carros, e com os últimos ajustes na mochila finalmente partimos para o primeiro objetivo, chegar na base da Cachoeira e fazer algo antes do anoitecer. Depois horas caminhando pelas pedras no leito do rio fazendo algumas pequenas paradas para desacelerar os batimentos e seguindo sempre antes de esfriar o corpo. Tocando rio acima, passando em abismos em que não haveria menor chance de continuar o roteiro caso alguém desse um vacilo e escorregasse rio abaixo. Nem podia imaginar como seria à volta, muito menos se o nível da água aumentasse.

Depois de algumas horas a surpresa para todos, já estávamos bem próximos, surpreendentemente estávamos bem condicionados e em mais alguns minutos chegamos ao destino final. A famosa Cachoeira da Fumacinha ao fundo de um enorme cânion, bem de longe dava para ouvir sua força despejando água para alimentar as corredeiras do rio. Baixamos todas as mochilas na Base uns duzentos e cinquenta metros da entrada da cachoeira aonde poderíamos observa sua cortina d’água, acima de nós um enorme paredão formando um teto nos dava a proteção para nossas noites de descanso.

Aproveitamos o dia com o passeio clássico na cachoeira e a conquista da linha de highline na entrada do cânion da queda d’água, terminamos a montagem à noite e deixamos o primeiro rolé para dia seguinte. A primeira noite foi de chuva fraca, dormimos tranquilos mas a mudança de tempo foi eminente apesar da previsão apontar poucos milímetros de chuva. Consegui dar o primeiro rolé com fita bem molhada, nada mudou a não ser a paisagem, o volume da queda d’água estava aumentando e cachoeira cada vez mais linda e impressionante. Enquanto o Paulinho mais o gaúcho trabalhavam na Via, voltamos para o acampamento e nos preparamos para abrir a linha de Waterline. O dia foi chegando ao fim e só conseguimos fazer a fixação de um dos lado do poção, de frente para cachoeira sendo esmagados contra a parede por um vapor congelante e constante pela força da água. Decidimos então abortar a missão, mesmo depois do pior te sido feito, foi uma decisão sensata, pois o tempo só estava piorando cada vez mais e a saída do salão da cachoeira foi no momento certo. Não teríamos aguentado o frio se continuássemos.

À noite foi mais uma prova de que quando tiramos o pé do conforto de nossas casas, devemos estar preparados para tudo. Durante a madrugada acordamos com a formação de uma nova cachoeira no teto do paredão acima do nosso acampamento molhando tudo de forma cada vez mais continua e um vapor aumentando. Neste momento foi cada um por si com seu saco de dormir e o que mais conseguisse pegar e subir o paredão em busca de um novo abrigo nos platôs. Foi realmente uma noite extrema, na madrugada depois de algumas horas de corre-corre a procura de um lugar seguro eu só identificava os amigos pela luz das lanternas a cada trovão ou rugido da Cachoeira que parecia um monstro urrando, e o barulho aumentava cada vez mais com o volume da água.

Somente no amanhecer conseguimos ver o quanto escalamos para fugir da chuva. No pequeno platô abaixo tinha o gaúcho ainda dormindo, protegido apenas a parte do rosto e restante molhando com os respingos da cachoeira. Acima, no grande platô estava o restante da galera, afinal, apesar de tudo, todos ainda dormiram bem. Mas era o dia de arrumar tudo, dar o ultimo rolé no Highline que foi batizado de primeiro nível, limpar todo material da parede e descer com quase o dobro do peso com os equipamentos molhados e, ainda para completar, aquilo que nem queria imaginar... o Rio se transformou numa corredeira e a descida foi na maior parte por dentro d’água entre as pedras. Alguns trechos de travessias com altíssimos riscos, mas tínhamos que sair de lá encaramos esta aventura a parte que foi a descida. No ultimo trecho para chegar no estacionamento, o nível da água estava acima da cintura. No final de tudo, não poderia ter sido melhor, vivemos um extremo com a recompensa do visual mais lindo de diversas cachoeiras e nos divertimos muito com tudo que era o nosso principal objetivo.

Os agradecimentos já foram tantos e ainda é pouco! A todos que me ajudaram, aos amigos e as marcas SOLO Deuter Brasil e Bonier equipamentos, tenham certeza que este foi um grande passo para o Esporte na Região da Chapada Diamantina e para o Brasil com essas grandes conquistas, espero que todos, de um modo geral, tenham noção da importância disso e nos apoiem cada vez melhor nos próximos desafios. Decidimos por conta própria sair do nosso conforto e buscar algo que possa motivar as outras pessoas a aproveitarem melhor a vida, saindo da inércia onde se cncontram e dar o primeiro passo em busca de um sentido maior para vida. Muito obrigado a todos, até a próxima.

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