Aceitar as
mudanças e viver ao extremo buscando o melhor em cada detalhe que a
Natureza oferece é estar aberto ao novo, ao presente que não se
repete, cada passo tudo muda e esse é o encanto, ou ainda, talvez,
mais extraordinário do que tentamos descrever.
Essa
grande aventura começou com a ideia de dividir a equipe para ao
mesmo tempo conquistar o paredão da Fumacinha com uma Via Big Wall
pelo Paulinho e seu fiel parceiro do climb, o gaúcho Marcelo que
viajou quilômetros para continuar o projeto e por fim realizar. Sua
chegada foi ao mesmo tempo em que pretendíamos alcançar o roteiro
Fumacinha por baixo, seguiríamos todos juntos rio a cima e o
Paulinho escalariam o paredão, então a missão veio a calhar com
ideia de abrir uma linha de Highline com visual de fundo da Cachoeira
e um Waterline no véu da cortina d`água.
A diversão
começa quando pegamos nossas as mochilas e partimos para mais uma
missão que não sabemos como será, mas imaginamos o melhor desde o
início e estamos sempre preparados para o que há que aconteça, e
nas surpresas usufruir a melhor ou única opção. Na estrada paramos
na ultima merceariazinha e calibramos a bagagem com mais alguns itens
para a sobremesa e pronto, com mais ou menos vinte quilos na mochila
de cada um, alguns mais, mas adequado ao teste de resistência de
cada atleta.
Seguimos
para entrada da trilha onde deixamos os carros, e com os últimos
ajustes na mochila finalmente partimos para o primeiro objetivo,
chegar na base da Cachoeira e fazer algo antes do anoitecer. Depois
horas caminhando pelas pedras no leito do rio fazendo algumas
pequenas paradas para desacelerar os batimentos e seguindo sempre
antes de esfriar o corpo. Tocando rio acima, passando em abismos em
que não haveria menor chance de continuar o roteiro caso alguém
desse um vacilo e escorregasse rio abaixo. Nem podia imaginar como
seria à volta, muito menos se o nível da água aumentasse.
Depois de
algumas horas a surpresa para todos, já estávamos bem próximos,
surpreendentemente estávamos bem condicionados e em mais alguns
minutos chegamos ao destino final. A famosa Cachoeira da Fumacinha ao
fundo de um enorme cânion, bem de longe dava para ouvir sua força
despejando água para alimentar as corredeiras do rio. Baixamos todas
as mochilas na Base uns duzentos e cinquenta metros da entrada da
cachoeira aonde poderíamos observa sua cortina d’água, acima de
nós um enorme paredão formando um teto nos dava a proteção para
nossas noites de descanso.
Aproveitamos
o dia com o passeio clássico na cachoeira e a conquista da linha de
highline na entrada do cânion da queda d’água, terminamos a
montagem à noite e deixamos o primeiro rolé para dia seguinte. A
primeira noite foi de chuva fraca, dormimos tranquilos mas a mudança
de tempo foi eminente apesar da previsão apontar poucos milímetros
de chuva. Consegui dar o primeiro rolé com fita bem molhada, nada
mudou a não ser a paisagem, o volume da queda d’água estava
aumentando e cachoeira cada vez mais linda e impressionante. Enquanto
o Paulinho mais o gaúcho trabalhavam na Via, voltamos para o
acampamento e nos preparamos para abrir a linha de Waterline. O dia
foi chegando ao fim e só conseguimos fazer a fixação de um dos
lado do poção, de frente para cachoeira sendo esmagados contra a
parede por um vapor congelante e constante pela força da água.
Decidimos então abortar a missão, mesmo depois do pior te sido
feito, foi uma decisão sensata, pois o tempo só estava piorando
cada vez mais e a saída do salão da cachoeira foi no momento certo.
Não teríamos aguentado o frio se continuássemos.
À noite
foi mais uma prova de que quando tiramos o pé do conforto de nossas
casas, devemos estar preparados para tudo. Durante a madrugada
acordamos com a formação de uma nova cachoeira no teto do paredão
acima do nosso acampamento molhando tudo de forma cada vez mais
continua e um vapor aumentando. Neste momento foi cada um por si com
seu saco de dormir e o que mais conseguisse pegar e subir o paredão
em busca de um novo abrigo nos platôs. Foi realmente uma noite
extrema, na madrugada depois de algumas horas de corre-corre a
procura de um lugar seguro eu só identificava os amigos pela luz das
lanternas a cada trovão ou rugido da Cachoeira que parecia um
monstro urrando, e o barulho aumentava cada vez mais com o volume da
água.
Somente
no amanhecer conseguimos ver o quanto escalamos para fugir da chuva.
No pequeno platô abaixo tinha o gaúcho ainda dormindo, protegido
apenas a parte do rosto e restante molhando com os respingos da
cachoeira. Acima, no grande platô estava o restante da galera,
afinal, apesar de tudo, todos ainda dormiram bem. Mas era o dia de
arrumar tudo, dar o ultimo rolé no Highline que foi batizado de
primeiro nível, limpar todo material da parede e descer com quase o
dobro do peso com os equipamentos molhados e, ainda para completar,
aquilo que nem queria imaginar... o Rio se transformou numa
corredeira e a descida foi na maior parte por dentro d’água entre
as pedras. Alguns trechos de travessias com altíssimos riscos, mas
tínhamos que sair de lá encaramos esta aventura a parte que foi a
descida. No ultimo trecho para chegar no estacionamento, o nível da
água estava acima da cintura. No final de tudo, não poderia ter
sido melhor, vivemos um extremo com a recompensa do visual mais lindo
de diversas cachoeiras e nos divertimos muito com tudo que era o
nosso principal objetivo.
Os agradecimentos já foram tantos e ainda é pouco! A todos que me ajudaram, aos amigos e as marcas SOLO Deuter Brasil e Bonier equipamentos, tenham certeza que este foi um grande passo para o Esporte na Região da Chapada Diamantina e para o Brasil com essas grandes conquistas, espero que todos, de um modo geral, tenham noção da importância disso e nos apoiem cada vez melhor nos próximos desafios. Decidimos por conta própria sair do nosso conforto e buscar algo que possa motivar as outras pessoas a aproveitarem melhor a vida, saindo da inércia onde se cncontram e dar o primeiro passo em busca de um sentido maior para vida. Muito obrigado a todos, até a próxima.
Mais fotos no Album: Primeiro Nível - Cachoeira da Fumacinha