Você já
teve alguma experiência ou oportunidade de encarar e controlar o seu
medo? De repente a vida nos coloca diante de grandes desafios em que
tudo depende da nossa coragem, do poder de decisão, mas isso não
significa que você deixará de ter medo e sim assumir o controle das
suas reações. Não é evitando os desafios ou o desconhecido como
resposta. Eu já tive grandes momentos de medo, o que sempre me faz
parar pra pensar e refletir sobre se o que eu estou fazendo é bom ou
ruim pra mim, me questiona qual seria a resposta naquele momento para
encontrar o ponto de equilíbrio quando estou diante de um abismo.
No esporte
e na vida viver com coragem não é fugir do medo! Uma vez me
perguntaram: o que é altura pra você? Eu respondi prontamente!
_Respeito, eu tenho medo! E é isso que me mantém vivo, nós devemos
ter sempre esse medo que é uma forma de respeito à segurança. Sem
o medo a gente acaba sendo inconsequente! Então o medo se torna
importante, ele está sempre presente e é o que gera adrenalina. Se
não gerasse adrenalina seria algo desinteressante e no Highline e na
Escalada pra mim é assim, o medo está sempre presente, vai sempre
existir e deve ser sempre respeitado!
Eu
recentemente fiz uma escalada no Corcovado com meu amigo Istácio
Vieira onde vivi mais uma grande experiência desta em que, ao mesmo
tempo em que demonstrei coragem, dada a minha experiência na
escalada e em ambientes em altura, tive que revelar o medo para
mostrar ao meu parceiro que na montanha deve haver sempre um meio
termo, para que assim a gente possa planejar as nossas ações e
controlar as reações para manter o equilíbrio e se mover com
segurança. Meu amigo é um jovem fotografo de 18 anos e nunca tinha
escalado uma montanha, porém já havia tido algumas experiências de
escalar pequenas paredes e manusear os equipamentos básicos para a
segurança, mas sem autonomia, o que requer sempre um olhar atento a
todo o momento para que ele não deixasse de ficar preso em algum
ponto.
Apesar da
escalada por si só já ser um grande desafio, a contar pelo acesso
até chegar a parte alta da montanha para escalar essa Via(rota)
clássica no Rio de Janeiro chamada K2, o meu objetivo era ainda mais
audacioso do que levar um escalador com pouca experiência para
escalar essa montanha até o seu final e poder sair no Cristo
Redentor, mas como sou guia e instrutor de escalada, toda essa parte
para mim seria apenas mais uma aula, um treinamento e o privilégio,
claro! De está novamente escalando esta montanha sagrada, com total
comprometimento de quem a deseja escalar, como fazemos todas as vezes
em que tiramos o pé do chão para alcançar um cume especial como
este. Há muitos anos escalo esta montanha e pelo menos há seis anos
desde que comecei a praticar Highline eu tinha vontade de abrir uma
Linha entre o vão que se forma antes da ultima parte desse paredão
nessa escalada. E foi a busca por mais esta realização que me levou
a viver mais esta grande experiência.
Em
todo esse tempo eu planejei ir vária vezes, mas acabei não indo!
Por se tratar de uma escalada não muito fácil para subir com todo
material pesado de conquista e por ter o acesso à base da parede um
tanto longe, acabava não conseguindo apoio para ir de carro e assim
adiava, cheguei a convidar vários outros amigos mais experientes
para escalar comigo, mas de nenhuma forma foi possível até num
determinado momento em que percebi que o que faltava mesmo era dar o
primeiro passo, pois atitude, experiência e disposição eu já
tinha. Então convidei de um dia para o outro o meu amigo fotografo
Istácio Vieira que seria meu parceiro nessa missão e o conhecimento
dele seria essencial para fazer o registro dessa primeira travessia
no Highline.
Na mesma
tarde em que planejamos a missão conseguimos um apoio de carro do
nosso amigo Elias Maio, o qual seremos sempre grato pela grande ajuda
em nos levar de carro até o estacionamento das Paineiras, o que
facilitou o nosso acesso a trilha que leva para as escaladas na parte
alta, se não teríamos que caminhar por pelo menos umas três horas
só de ida. E assim partimos para esta missão, na mochila apenas o
mínimo necessário, mesmo assim a mochila foi extremamente pesada
então tive que arrastá-la parede acima. Escalamos por durante
quatro horas até chegar na penúltima parte da parede que culmina no
mesmo ponto da outra Via chamada Macaco Prego do outro lado do vão.
Instalei os pontos de ancoragens, preparei todo esse primeiro lado e
continuamos a escalada para acessar o lado oposto. Como estávamos
somente com o mínimo de equipamento, deixei a corda principal para o
backup da Linha e tivemos que escalar o restante da Via com apenas 20
metros de corda, o que não foi possível para acessar o outro lado
através de rapel, então para não perder a viagem tive que
desescalar o ultimo trecho após descer meu parceiro com segurança
usando a corda.
Instalei
os pontos de ancoragens desse outro lado e depois de mais algumas
horas recolhi a cordinha que tinha lançado, puxei a fita, equalizei
todos os pontos, tencionei o Highline sozinho enquanto meu amigo se
encarregava de registrar tudo, e finalmente pisei na fita para
experimentar mais uma vez essa sensação do desconhecido. A linha de
aproximadamente trinta metros sobre uma exposição de mais de
quatrocentos metros de altura bem embaixo dos meus pés, estávamos
próximo ao topo do Corcovado que se sobressai no meio da Zona Sul
com seus setecentos e dez metros de altitude. Nesta hora, por um
breve instante hesitei se eu realmente precisava fazer aquilo? Aí me
veio na cabeça toda a experiência que acabara de ter, que trouxe
meu amigo e eu até o final dessa escalada, realizando o sonho dele
de escalar o Corcovado pela primeira vez, tudo aquilo, por mais que
já tivesse realizado o sonho de outros montanhistas escalando essa
mesma Via várias outras vezes, essa era uma experiência nova, um
aprendizado diferente. Lembrei que durante a escalada eu o ajudava o
tempo todo a manter o foco na escalada, ensinando-o a desvendar o
segredo do abismo, de se concentrar para manter o equilíbrio e assim
consegui se movimentar! A resposta para estes momentos, que somente
assim conseguimos experimentar o novo, e fui rapidamente controlando
o medo. Certamente essa dúvida foi só por alguns segundos, pois
logo percebi que tinha feito tudo certo, e não teria o menor
problema se não conseguisse atravessar a fita naquele momento, a
conquista da Linha estava terminada, todo o trabalho tinha terminado
e poderia voltar outro dia para ter o privilégio de encarar
novamente o desafio e atravessar o Highline, se fosse o caso. Mas
após passar esses segundos de hesitação, dei o ok para o Istácio
fazer o registro da travessia que eu iria andar. Estava sentado na
fita sobre o vazio, levantei e suavemente caminhei, no meio as pernas
sempre tremem um pouco, cheguei a pensar novamente que não
conseguiria naquele momento, mas me concentrei e andei até o fim,
comemorei um pouco a travessia do outro lado, dando uns gritos para
liberar a adrenalina, pisei na fita novamente e atravessei de volta
sem cair uma só vez. Como dizem: de primeira! O tempo todo eu
acreditei que era possível, sempre controlando a adrenalina que se
manifesta através do medo, tremedeira nas pernas e coração
acelerado, reflexos de pensamentos que por pequenos instantes nos
questionam parar ou continuar. Assim eu descobrir mais uma vez que
tudo depende de nós mesmo. Se você está diante do seu desafio é
porque você teve capacidade de chegar até ali, claro! Mas continuar
é uma opção, a melhor escolha, pois o primeiro passo é sempre o
mais importante e é acreditando e controlando os nossos medos que
tudo dar certo. A resposta que precisava estava em mim. O medo pra
mim não é mais uma sensação que me aprisiona, o medo sob controle me faz querer ir além. Me surpreende com o novo a cada
passo no desconhecido e aguça ainda mais meus pensamentos, é
através do medo que eu experimento a dose mais forte da adrenalina,
o que é bom só por um momento! Não é com muita coragem e nem sem,
não é papo de otimismo, o controle do medo é o segredo do abismo.
E assim mais uma linha incrível de Highline na Zona Sul foi
conquistada, e por essa experiência maravilhosa que tive a batizei
de O Segredo do Abismo.
Agradeço pela visita, acesse e curta a Fanpage para acompanhar as fotos desse magnífico Highline: Atleta Gideão Melo
Até a próxima!
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